Fortalecer a participação feminina no ambiente de negócios é um dos objetivos da seleção de propostas lançada pela superintendência.
Ainda que apresentem maior nível de escolaridade, as mulheres no Nordeste ainda ganham menos que os homens e ocupam menos cargos gerenciais. A desigualdade de gênero envolvendo a participação feminina no mercado de trabalho foi um dos cenários considerados pela Sudene para o lançamento do edital Inova Mulheres, que vai selecionar iniciativas inovadoras lideradas por mulheres e objetivem a promoção do desenvolvimento regional. O certame recebe propostas até o próximo dia 22 de abril. As informações estão disponíveis no site www.gov.br/sudene.
Criar instrumentos para oferecer oportunidades de afirmação do empreendedorismo feminino é uma das ações da Sudene que integra o Plano Regional de Desenvolvimento do Nordeste. Para apresentar propostas como o Inova Mulher, a autarquia analisou os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo IBGE com dados de 2022. O levantamento aponta que as mulheres são maioria nos graus de qualificação mais elevados entre pessoas com 25 anos ou mais de idade. Nesta parcela da população, 30% das mulheres possuem ensino médio completo ou equivalente, ante 27% dos homens. Em relação ao ensino superior, as mulheres atingiram 15%, contra 10% registrado pela população masculina. Mesmo assim, o público feminino sofre mais com o desemprego.
“As mulheres apresentam maior qualificação. Elas são, por exemplo, maioria na conclusão do ensino superior. Mas as taxas de desocupação são predominantes no grupo feminino”, destaca a doutora em Estatística e servidora da Sudene, Gabriela Nascimento. Na região Nordeste, este valor é de 15,9% entre as mulheres com 14 anos ou mais, contra 10,9% entre os homens.
Na avaliação da pesquisadora, este cenário pode estar sendo fortalecido por fatores culturais que associam determinadas carreiras profissionais ao público masculino ou criam uma percepção equivocada de que o homem terá mais disponibilidade para trabalhar. “Já existe culturalmente uma barreira de oportunidades porque há áreas que são associadas imediatamente à presença masculina, como ocorre nas engenharias e nas ocupações na área de tecnologia. É um fator que demanda um tempo muito maior para mudar esta percepção”, disse a servidora.
Quando aborda a predileção do mercado pela contratação dos homens, Gabriela lembra as mulheres convivem com outros empecilhos para modificar esta tendência. “Em um cenário no qual um homem e uma mulher possuem a mesma qualificação e disputam a mesma vaga, há uma tendência de contratação para o primeiro porque, em algumas situações, as empresas acham que a maternidade poderá diminuir a disponibilidade e o foco da mulher no trabalho. São questões que infelizmente atrapalham o processo de decisão e prejudicam a igualdade de oportunidades”, disse.
A região Nordeste também apresenta a maior taxa de subutilização do trabalho feminino em todo o Brasil. Na região, este indicador atinge 39% da amostra, enquanto o índice nacional é 26%. Quando analisada a proporção de pessoas em posições gerenciais, os homens ocupam pelo menos 1,5 vezes mais cargos de liderança do que as mulheres. No Nordeste, apenas 39,6% dos postos de trabalho desta natureza são ocupadas pelo público feminino. Isso reflete no rendimento médio mensal das pessoas de 14 anos ou mais que estão ocupadas. A PNAD mostrou que os homens têm renda 15% maior do que das mulheres. Enquanto os ganhos mensais médios do público masculino chegam a R$ 1.962,00, o valor cai para R$ 1.699,00 para as mulheres.
Para o superintendente Danilo Cabral, a pauta a favor equidade de gêneros é um tema que precisa estar presente na agenda da Sudene. “O lançamento do Inova Mulher foi uma primeira resposta para reposicionar a instituição neste debate. Isso também é resultado de nossa preocupação em fortalecer nossa vocação histórica na área de inteligência regional. Isso nos dá condições de propor políticas mais assertivas para melhorar a qualidade de vida das pessoas”, comentou o gestor.
As linhas setoriais prioritárias dos projetos submetidos ao Inova Mulher são economia criativa, bioeconomia e educação. A expectativa é de que sejam beneficiados 51 projetos em todos os estados de atuação da Sudene. Cada proposta receberá até R$ 80 mil. O investimento é de R$ 4 milhões.
Fonte: Sudene