Grafismo e contação de histórias coroam o 2º dia do Festival Caju de Leitores

Por Redação Oxarope
06/09/2023

Publicado em -

oxarope03noticia

A Oficina de Grafismo com Janaron Pataxó encantou crianças e adultos presentes no festival (Crédito: Paulo VP/ Festival Caju de Leitores) – Foto: Caju

O segundo dia do Festival Caju de Leitores começou com cânticos, danças e oração. O Pajé Akitxawã exaltou a ancestralidade e a natureza, ‘com maracá, cantando a floresta, agradecendo ao Inaô e saudando a Mãe-Terra’, com a participação de todos o público presente. Em seguida, a cordelista Auritha Tabajara brindou as crianças com histórias do seu povo e com grande interação do público infantil.

A multiartista e ativista amazonense Márcia Kambeba também esteve na Oca Tururim. Sua fala e suas histórias encheram o imaginário das crianças, com os encantados, Matinta Pereira, Curupira e Mãe d’Água.

“O Festival está sendo maravilhoso porque podemos ver neste evento a interação, o parente que conversa com parente sobre literatura. Não tem nada igual. Este entrelace de povos é lindo de se ver. Me sinto honrada por poder partilhar a sabedoria dos meus avós e bisavós, com todas as infâncias – parafraseando Munduruku – do Festival. Na minha cultura, na nossa cosmopercepção, vivi estes seres, apesar de não ter visto, ouvia os assobios da Matinta, enquanto era testemunha da fala de minha vó. Entendia a hora de adormecer e a hora que a aldeia precisava ficar em silêncio. Com a globalização estamos perdendo este respeito pela ancestralidade e seus costumes e tradições. Este festival traz uma centelha de que isso pode mudar”, revelou.

Grafismo

Janaron Pataxó foi o escolhido para apresentar uma vivência em grafismo, explicando que é dessa forma que ele manifesta a história e as tradições do povo Pataxó. Na oficina que ministrou, Janaron explicou um pouco sobre a pintura ancestral e seus significados.

“O grafismo significa proteção. E cada desenho tem uma simbologia: figuras esféricas refletindo o Sol e a Lua, são fartura; figuras como flechas, são guerreiros; as que lembram a puã – ou garras do caranguejo, significa força. Além desta existem muitas outras. Também há as que designam sexo e estado civil. No caso de homens e mulheres solteiros, os desenhos são sempre muito coloridos, tem a função de chamar a atenção para um possível parceiro. Já homens e mulheres casados devem ter uma pintura um pouco mais discreta. O símbolo da mulher Pataxó é parecido com um balão, enquanto o dos homens é um zigue-zague”, contou.

Janaron salientou que as cores também são importantes na cultura, sendo o preto – mistura do carvão e uma redução de jenipapo, a cor da proteção e a mais utilizada, sendo a base do grafismo.

Entre os palestrantes do segundo dia de Caju estiveram Márcia Kambeba e  Daniel Muduruku (foto), além de  Trudruá Dorrico e Janaron Pataxó, Auritha Tabajara e Arissana Pataxó (Crédito: Paulo VP/ Festival Caju de Leitores) – Foto: Caju

“O vermelho – retirado do Urucum – é utilizado como símbolo da força. Já o amarelo, feito à base do barro de falésia, também é bastante usado e tem grande importância nos batismos. É uma forma de conexão com a terra. Já o branco, barro subproduto das falésias também, é mais utilizado por mulheres e nos casamentos e traz a simbologia da espiritualidade, paz, leveza e tranquilidade”, comentou, o artista que ficou muito feliz pelo convite e por poder representar esta arte, que tem levado nossa cultura e ancestralidade.

Sua participação foi finalizada com o grafismo nas crianças presentes, enquanto os adultos partilhavam o momento pintando uns aos outros, transformando o sentimento em arte.

Partilha

Pedro Alvarenga, de 6 anos, veio com a escola Coqueiral disse que a parte que mais gostou foi da pintura. “Foi muito legal. O Janaron fez em mim a pintura. Também gostei muito da História do Rio [contada por Auritha Tabajara]”, revelou.

A educadora Fernanda Bastos Alvarenga, de 40 anos, que mora em Caraíva. Com ela vieram cerca de 30 pessoas da Escola Coqueiral, entre alunos e familiares. “O Caju de Leitores é um privilégio por termos um evento como este de incentivo à leitura e de contação de história. Muito além disso, ela aumenta o repertório da comunidade. O evento é tão marcante, que as crianças inclusive se lembraram das histórias contadas no ano passado. Acredito que a educação está aqui e lamento por não haver mais crianças partilhando estes momentos, conectando com os povos originários e dos ancestrais, aproveitando esta liberdade de se expressar, de interagir e conhecer histórias ancestrais”, informou a educadora, expressando a alegria de ver o público se apropriando da arte indígena, do grafismo, com licença dos povos originários, dessa forma aproximando as crianças, de forma humanizada, com essa essência.     

Intervenções

Maria Rios, do Projeto Lixo é Luxo, realizou uma intervenção falando da natureza, reciclagem em uma apresentação de dança.

Na ocasião, o dia internacional da mulher indígena, celebrado hoje, Auritha Tabajara e Márcia Kambeba fizeram uma homenagem, com um minuto de silêncio, pelas mulheres vítimas dos abusos e morte.

Na parte da tarde, Arissana Pataxó e Daniel Munduruku trouxeram como pauta da roda de conversa, a leitura. Arissana explicou sobre a concepção da arte para esta edição do Caju. A identidade visual do Festival Caju foi uma proposta feita pela Joanna Savaglia, produtora do evento, que pediu uma arte que pudesse ser fragmentada.

“Para a obra, pensei em algo que remetesse à leitura como algo prazeroso. E me veio à memória, uma atividade que fiz há alguns anos com alunos na Reserva da Jaqueira, onde pedi que cada aluno escolhesse um livro e uma árvore para se apoiar e fazer a leitura. Como o nome do Festival é Caju, pensei em um cajueiro e ao invés de crianças ao pé da árvore, as fiz nos galhos.

Já para a técnica, Arissana utilizou apenas barro amarelo e carvão. “Escolhi fazer o caju amarelo, as folhas pretas e o tronco amarelo. As crianças receberam a cor preta para contrastar e quebrar o conceito de pintar as figuras humanas de cores claras. Também pensei na questão dos materiais, que são parte do nosso cotidiano e que nem sempre são encontrados em outros locais no mundo”, ressaltou.

Para finalizar o segundo dia, os Marujos Pataxós trouxeram o samba indígena para a Casa Sagrada – a Oca Tururim.

PROGRAMAÇÃO FESTIVAL CAJU DE LEITORES

Dia 6 – quarta-feira – Oca Tururim

Das 8h  às 11h – Desfile Cívico

Das 12h às 14h – Intervalo

15h – Atividade Livre: autógrafos, fotos e entrevistas

16h – Homenagem ao Valdemy Sisnande – Roda de Conversa com Edite, Edilza, Edinho, Lomanto e Biriba

17h – Lute como a Língua Patxohã, com Awoy Pataxó, Raoni Pataxó e Arissana Pataxó

18h – Contação de Histórias com Japira Pataxó, Maria Coruja e Dona Joana (em torno da fogueira)

Dia 7 – quinta-feira – Oca Tururim

9h – Abertura

9h15 – Japira Pataxó e Auritha Tabajara

10h – Contação de Histórias com Adriana Pesca e Sairi Pataxó

11h – Ilustração com Arissana Pataxó

Das 12h às 14h – Intervalo

15h – Atividade Livre: autógrafos, fotos e entrevistas

16h – Letramento indígena em Bibliotecas Comunitárias – Roda de Conversa com Rede Oxe de Bibliotecas Comunitárias do Estado da Bahia

17h – A oralidade e a escrita para o protagonismo jovem em ações socioambientais – Roda de Conversa com Coletivo Jovem Muká Mukaú e Coletivo Caraíva Sem Assédio

18h – Encerramento com Roda de Leitura (trechos de livros)

Assessoria de Imprensa Festival Caju de Leitores:  Débora do Carmo

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Grafismo e contação de histórias coroam o 2º dia do Festival Caju de Leitores

Por Redação Oxarope
06/09/2023 - 10h38 - Atualizado 8 de setembro de 2023

Publicado em -

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A Oficina de Grafismo com Janaron Pataxó encantou crianças e adultos presentes no festival (Crédito: Paulo VP/ Festival Caju de Leitores) – Foto: Caju

O segundo dia do Festival Caju de Leitores começou com cânticos, danças e oração. O Pajé Akitxawã exaltou a ancestralidade e a natureza, ‘com maracá, cantando a floresta, agradecendo ao Inaô e saudando a Mãe-Terra’, com a participação de todos o público presente. Em seguida, a cordelista Auritha Tabajara brindou as crianças com histórias do seu povo e com grande interação do público infantil.

A multiartista e ativista amazonense Márcia Kambeba também esteve na Oca Tururim. Sua fala e suas histórias encheram o imaginário das crianças, com os encantados, Matinta Pereira, Curupira e Mãe d’Água.

“O Festival está sendo maravilhoso porque podemos ver neste evento a interação, o parente que conversa com parente sobre literatura. Não tem nada igual. Este entrelace de povos é lindo de se ver. Me sinto honrada por poder partilhar a sabedoria dos meus avós e bisavós, com todas as infâncias – parafraseando Munduruku – do Festival. Na minha cultura, na nossa cosmopercepção, vivi estes seres, apesar de não ter visto, ouvia os assobios da Matinta, enquanto era testemunha da fala de minha vó. Entendia a hora de adormecer e a hora que a aldeia precisava ficar em silêncio. Com a globalização estamos perdendo este respeito pela ancestralidade e seus costumes e tradições. Este festival traz uma centelha de que isso pode mudar”, revelou.

Grafismo

Janaron Pataxó foi o escolhido para apresentar uma vivência em grafismo, explicando que é dessa forma que ele manifesta a história e as tradições do povo Pataxó. Na oficina que ministrou, Janaron explicou um pouco sobre a pintura ancestral e seus significados.

“O grafismo significa proteção. E cada desenho tem uma simbologia: figuras esféricas refletindo o Sol e a Lua, são fartura; figuras como flechas, são guerreiros; as que lembram a puã – ou garras do caranguejo, significa força. Além desta existem muitas outras. Também há as que designam sexo e estado civil. No caso de homens e mulheres solteiros, os desenhos são sempre muito coloridos, tem a função de chamar a atenção para um possível parceiro. Já homens e mulheres casados devem ter uma pintura um pouco mais discreta. O símbolo da mulher Pataxó é parecido com um balão, enquanto o dos homens é um zigue-zague”, contou.

Janaron salientou que as cores também são importantes na cultura, sendo o preto – mistura do carvão e uma redução de jenipapo, a cor da proteção e a mais utilizada, sendo a base do grafismo.

Entre os palestrantes do segundo dia de Caju estiveram Márcia Kambeba e  Daniel Muduruku (foto), além de  Trudruá Dorrico e Janaron Pataxó, Auritha Tabajara e Arissana Pataxó (Crédito: Paulo VP/ Festival Caju de Leitores) – Foto: Caju

“O vermelho – retirado do Urucum – é utilizado como símbolo da força. Já o amarelo, feito à base do barro de falésia, também é bastante usado e tem grande importância nos batismos. É uma forma de conexão com a terra. Já o branco, barro subproduto das falésias também, é mais utilizado por mulheres e nos casamentos e traz a simbologia da espiritualidade, paz, leveza e tranquilidade”, comentou, o artista que ficou muito feliz pelo convite e por poder representar esta arte, que tem levado nossa cultura e ancestralidade.

Sua participação foi finalizada com o grafismo nas crianças presentes, enquanto os adultos partilhavam o momento pintando uns aos outros, transformando o sentimento em arte.

Partilha

Pedro Alvarenga, de 6 anos, veio com a escola Coqueiral disse que a parte que mais gostou foi da pintura. “Foi muito legal. O Janaron fez em mim a pintura. Também gostei muito da História do Rio [contada por Auritha Tabajara]”, revelou.

A educadora Fernanda Bastos Alvarenga, de 40 anos, que mora em Caraíva. Com ela vieram cerca de 30 pessoas da Escola Coqueiral, entre alunos e familiares. “O Caju de Leitores é um privilégio por termos um evento como este de incentivo à leitura e de contação de história. Muito além disso, ela aumenta o repertório da comunidade. O evento é tão marcante, que as crianças inclusive se lembraram das histórias contadas no ano passado. Acredito que a educação está aqui e lamento por não haver mais crianças partilhando estes momentos, conectando com os povos originários e dos ancestrais, aproveitando esta liberdade de se expressar, de interagir e conhecer histórias ancestrais”, informou a educadora, expressando a alegria de ver o público se apropriando da arte indígena, do grafismo, com licença dos povos originários, dessa forma aproximando as crianças, de forma humanizada, com essa essência.     

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“Para a obra, pensei em algo que remetesse à leitura como algo prazeroso. E me veio à memória, uma atividade que fiz há alguns anos com alunos na Reserva da Jaqueira, onde pedi que cada aluno escolhesse um livro e uma árvore para se apoiar e fazer a leitura. Como o nome do Festival é Caju, pensei em um cajueiro e ao invés de crianças ao pé da árvore, as fiz nos galhos.

Já para a técnica, Arissana utilizou apenas barro amarelo e carvão. “Escolhi fazer o caju amarelo, as folhas pretas e o tronco amarelo. As crianças receberam a cor preta para contrastar e quebrar o conceito de pintar as figuras humanas de cores claras. Também pensei na questão dos materiais, que são parte do nosso cotidiano e que nem sempre são encontrados em outros locais no mundo”, ressaltou.

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17h – Lute como a Língua Patxohã, com Awoy Pataxó, Raoni Pataxó e Arissana Pataxó

18h – Contação de Histórias com Japira Pataxó, Maria Coruja e Dona Joana (em torno da fogueira)

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9h15 – Japira Pataxó e Auritha Tabajara

10h – Contação de Histórias com Adriana Pesca e Sairi Pataxó

11h – Ilustração com Arissana Pataxó

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15h – Atividade Livre: autógrafos, fotos e entrevistas

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